terça-feira, dezembro 16

No Fundo da Mente

Tudo cai em silêncio. O tempo, esse artesão impiedoso, racha o coração sem pedir licença. Eu não vi o começo da história de vocês, mas sinto os ecos. Ela foi o seu lugar no mundo por um instante, e você foi o dela, até que o amor, cansado, aprendeu a partir.

Ela chorou em mim como quem encosta a testa na chuva. Eu apenas fiquei. Às vezes, ficar é tudo o que se pode fazer. Foi assim que nos aproximamos — não por escolha, mas por consequência — e durou até um momento, esse periodo que sempre parece despedida.

Você diz que me ama, e eu escuto. Mas há palavras que não alcançam certas sombras. Eu tento empurrar o passado para trás, empilhar dias novos sobre dias antigos, fingir que isso basta. Não basta.

Ela vive no fundo da minha mente como um calor que não se explica. Uma febre mansa, constante. Um fogo baixo que ilumina e queima ao mesmo tempo. Às vezes penso que é um aviso, outras vezes, um erro já cometido. Talvez exista uma linha invisível que atravessei sem saber.

As coisas boas não permanecem. A vida corre depressa demais para comparações. Ela era diferente de mim? Leve? Solta? Feita de vento? Coragem? Eu sou feita de perguntas.

Quando você me toca, meu corpo escuta o que você não diz. E eu me pergunto — sempre — como foi para ela. Chorei sozinha em um quarto de hotel, cercada por paredes que não sabiam meu nome. Guardei a dor comigo, como quem protege algo frágil. Você não quis machucar. Mesmo assim, doeu.

E às vezes me pergunto se ela ainda mora em você. Se aparece, discreta, no fundo dos seus pensamentos. Se, ao olhar nos meus olhos, você a reconhece ali — não como saudade, mas como rastro.

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Um beijo.

© O Ritmo da Chuva.
Maira Gall